Pânico VI (2023)

Cidade Nova, Medos Novos

A dupla Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett está novamente na direção de mais um filme da franquia Pânico (Scream). Pânico VI com 122 minutos possui a maior duração até agora, trazendo humor, sustos e alguns personagens antigos para aquecer o coração do fã, divertindo aqueles que procuram o lazer e a tensão sem precisar pensar muito.

Nessa nova história, agora não mais em Woodsboro e sim, estabelecida em Nova York, Jenna Ortega, Melissa Barrera retornam como as protagonistas irmãs Carpenter e Mason Gooding e  Jasmin Savoy Brown como os gêmeos Meeks-Martin. Os quatro sobreviventes do último filme, agora autodenominados quarteto top, tentam superar seus traumas e se permitir viver nessa cidade grande, mas com um novo Ghostface à solta suas vidas rapidamente estão em risco mais uma vez. Na cena inicial temos o primeiro assassinato da professora de cinema de Mindy (Jasmin Savoy Brown), uma das sobreviventes, criando o caos no ciclo de amizades deste grupo, com vários novos suspeitos e vítimas.

Neste ambiente maior e atual, percebe-se a necessidade de criar sua identidade própria além do legado deixado por Wes Craven, diretor dos quatro primeiros filmes da franquia. Assim, com um novo olhar, o filme distancia-se mais da metalinguagem, marca registrada da franquia, mas acerta em desenvolver o medo da cidade moderna. Onde você vai quando se sente ameaçado? Entra em um estabelecimento fechado? Vai para um lugar mais movimentado como o metrô? É nas ruas movimentadas e nas fugas de prédios colados da cidade grande que o medo é instaurado e o longa nos apresenta suas maiores cenas de tensão.

Além de acertar em cheio nesta característica tão importante do slasher, o filme ainda entrega cenas de perseguição empolgantes, destaque para Gale Weathers, interpretada por Courteney Cox, com direito a quedas dramáticas, brigas e reviravoltas, tudo que se espera das clássicas cenas de perseguição deste gênero. Em compensação, o roteiro escrito por James Vanderbilt e Guy Busick não valoriza sua evolução ao longo da franquia e a enfraquece como personagem para além de seu arquétipo, chegando a repetir exatas cenas do primeiro e segundo filme.

Dessa forma, Gale Weathers e Kirby Reed (Hayden Panettiere), sobrevivente do 4° filme que retorna, serviram apenas para fanservice como personagens legados, normalmente postas em cenas de pouca relevância e em diálogos destoantes. Já o quarteto top, enquanto em Pânico (2022) eram apenas arquétipos para a nostalgia do filme de 1996, neste novo longa apresentam características mais complexas. Jenna Ortega como Tara Carpenter finalmente apresenta uma personalidade concisa, enquanto sua irmã Sam (Melissa Barrera) está aprendendo a lidar com o trauma de ser a filha do 1° Ghostface. A química das duas em tela funciona muito bem, assim como suas atuações engrandecem as próprias personagem. Os gêmeos Mindy e Chad (Mason Gooding) também apresentam maior dinamismo e desenvolvimento comparado ao filme anterior, a garota não está mais uma cópia exagerada de seu tio Randy, do primeiro filme, com monólogos menores e ações mais próprias e Chad passa ter um caráter mais protetor quanto ao grupo, apresentado traços além de ser o rosto bonito do grupo.

Todos os personagens, com maior ou menor desenvolvimento, estão encaixados nessa conhecida fórmula do Pânico: cena inicial com seu ator mais famoso sendo assassinado, os personagens principais pressionados pela mídia, cenas de perseguição e mortes até o monólogo da revelação final no terceiro ato. Apesar disso, Pânico VI tenta constantemente provar-se como diferente, e mesmo com cenas de grande potencial para gerar essa mudança, eles em seguida acham uma solução rápida para seguir com a mesma fórmula. Assim como Gale e Kirby, são de agrado fácil para os fãs mais nostálgicos, essa fórmula agrada facilmente o público geral, entretanto ele perde tempo de sua própria construção como um slasher conciso para tentar provar em vão que pode ser diferente.

Assim como também perde tempo em seu excesso de diálogos, há a constante necessidade de reforçar a intenção das cenas nas falas dos personagens, em se afirmar como um filme de risco, diferente e brutal, mesmo não arriscando tanto quanto reforça. E assim, acaba perdendo a potência de cenas impactantes por colocar seu significado logo em seguida em seus diálogos.

Portanto, Pânico VI deseja ser diferente, mas segue firme em sua mesma fórmula segura conforme o resto da franquia, porém reconhece melhor seu lugar e consegue arrancar risos e gritos do espectador. Aquece mais o coração do fã e diverte o público que está procurando apenas o lazer descontraído.